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DESPORTIVAMENTE FALANDO

 

Falar em arbitragem é também falar em desporto. O desporto constitui um dos fenómenos sociais com maior impacto no nosso tempo e a sua prática, correctamente desenvolvida, representa uma importante fonte de valorização das pessoas e da sua qualidade de vida. Sendo a educação para os valores uma matéria central e transversal do novo sistema educativo, encontra na prática desportiva uma das bases fundamentais para a afirmação dos valores éticos identificados com o “espírito desportivo”.

 

Os valores transmitidos pela actividade desportiva são, para mim, entre outros: o humanismo (a pessoa primeiro que o adversário), a verdade e a honestidade (dizer e assumir a verdade, tolerar a verdade dos outros e aceitar a verdade do jogo), a solidariedade (a entreajuda aos colegas, a coesão no trabalho em grupo, o auxílio a um adversário lesionado), o respeito e a lealdade (em relação a si mesmo, aos colegas, ao adversário, ao árbitro, e às regras, na vitória e na derrota); a disciplina (como meio de potenciar a participação num grupo) e a coragem (de reconhecer os próprios erros, de assumir riscos controlados, de não pôr em risco o adversário, para ganhar).

 

Será que a competição faz mal aos jovens? Nada há de mais errado! Não é a competição que está mal ou que deve ser abolida. O que está mal e tem de ser abandonada é a forma como treinadores, pais, dirigentes e adeptos em geral se comportam perante a vitória e a derrota, exaltando uns e ignorando outros, traçando expectativas futuras e vangloriando em excesso os vencedores, tecendo comentários pouco abonatórios acerca dos vencidos, ligando a vitória ao sucesso e à glória e a derrota ao fracasso e à incapacidade. Interessa, acima de tudo, que a competição seja encarada como mais um momento de atividade, onde se lute por ganhar, onde se procure superar níveis anteriores, onde se leve muito em linha de conta o progresso conseguido e a forma como os comportamentos e os resultados são alcançados. Quem sabe se os que perdem hoje, não virão a ganhar amanhã?

 

Muitos de nós, a maioria, nunca conseguiremos transformar-nos em campeões. Mas sabemos que o desporto oferece amizade, rivalidade, desafio e satisfação. E nós sabemos, acima de tudo, que o desporto não é apenas ter saúde: desporto é alegria – uma das coisas boas da vida.
“O desporto inspira uma paixão e uma dedicação que tem um papel central na vida de muitas pessoas”, disse o antigo primeiro-ministro inglês, Tony Blair. Por cá, nos Açores, muita gente dá a cara pelos clubes desportivos e entrega-se ao trabalho. Muita gente tira do seu tempo pessoal e profissional para dar ao desporto. Muita gente trabalha diariamente e afincadamente para dignificar e manter de pé os clubes desportivos.

 

Concluindo, quero enaltecer e reconhecer o trabalho de todos os dirigentes, colaboradores, jogadores e demais intervenientes que dias após dias trabalham empenhadamente pelos clubes (qualquer que seja a modalidade) por quem dão a cara. Reconheço o trabalho de todos, mas também a gasolina, o telemóvel e por vezes o seu dinheiro que dispensam nestas tarefas de autêntico voluntariado.

 

Ser árbitro é também isto, é reconhecer tudo isto.


 
Por Rómulo M. Ávila
 
Árbitro da Associação de Futebol de Ponta Delgada.

OPINIÃO

Foto: Direitos Reservados

NAFISM - Núcleo de Árbitros de Futebol da Ilha de São Miguel

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